Tratamentos para engravidar aumentariam risco cardiovascular em mulheres, sugere estudo

Especialista aponta limitações da pesquisa e destaca impacto da idade na saúde do coração das pacientes

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Mulheres que passam por procedimentos de reprodução assistida teriam um risco maior de complicações cardiovasculares durante a gravidez, aponta estudo publicado no período científico Journal of the American Heart Association (JAHA). Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores analisaram um banco de dados com informações de mais de 106 mil partos de mulheres que passaram por tratamentos para engravidar e os compararam com cerca de 34 milhões de partos de gestações sem tratamento prévio.

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Segundo os dados do estudo, as mulheres que fizeram tratamento para engravidar tinham, em média, 35 anos enquanto as que engravidaram naturalmente tinham, em média, 28 anos. Elas também apresentavam, em geral, mais tendência à obesidade e outras comorbidades, como hipertensão e diabetes — fatores de risco para problemas cardiovasculares.

De acordo com as análises dos pesquisadores, as mulheres que se submeteram às técnicas de reprodução assistida para engravidar apresentaram um risco quase três vezes maior de insuficiência renal aguda; maior risco de ter batimentos cardíacos irregulares e de sofrerem com um descolamento da placenta durante a gravidez, além de terem mais probabilidade de se submeterem a uma cesariana e de parto prematuro.

Limitações da pesquisa

Segundo o médico ginecologista Eduardo Motta, do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos fatores não abordados pelo estudo – e que pode ser visto como uma limitação – é que não foi feito um acompanhamento das participantes para saber se desenvolveram algum problema cardiovascular posterior ao parto.

Outro fator apontado pelo médico é que os pesquisadores não separaram os casos pelo tipo de tratamento de reprodução humana recebido, nem pela duração das terapias. “É preciso diferenciar a mulher que só tomou a medicação daquela que passou por vários ciclos de tentativas. Também é preciso separar aquela que fez o tratamento e engravidou daquela que fez e não conseguiu engravidar”, destaca.

Motta disse ainda que existem vários tipos de tecnologias de reprodução assistida e diversas situações em que elas são aplicadas, o que gera diferenças nos perfis de quem busca as terapias. “Uma mulher pode se submeter a um tratamento por causa da infertilidade do marido; ou porque ela tinha uma trompa entupida; ou porque seus ovários não funcionavam corretamente; ou porque ela foi submetida a um tratamento prévio de câncer. São situações totalmente distintas e não é justo colocar todas elas no mesmo contexto sem separar as especificidades”, argumenta.

Impacto da idade

Outra ressalva do especialista é com relação à idade. Segundo Motta, quem recorre ao tratamento de reprodução assistida, normalmente, são mulheres mais velhas e com outras comorbidades associadas, entre elas dislipidemias (níveis elevados de gordura no sangue) e obesidade. “Mulheres mais velhas naturalmente terão mais problemas de saúde do que as mais novas. Mas o estudo não responde uma pergunta essencial: o quanto eu ofereci a mais de risco para essas mulheres pelo fato delas serem submetidas a uma reprodução assistida? A tecnologia usada por si só se tornou um fator de risco ou foi a própria gravidez?”, questiona.

Motta faz outra ponderação importante ao explicar que já é fato conhecido dos especialistas que os tratamentos de reprodução assistida podem ter complicações como trombose e problemas cardiovasculares enquanto a mulher está recebendo as medicações.  “Esse é um fator conhecido. Essas medicações têm risco, não são inócuas”, explica.

Apesar de todas as ressalvas, o especialista diz que os resultados do estudo são importantes porque chamam atenção para o fato de que os tratamentos de reprodução não são triviais, precisam seguir protocolos rígidos e a mulher precisa de acompanhamento especializado. “Não é para apavorar as mulheres que se submetem à reprodução humana. Mas é fundamental que ela cuide muito bem da saúde, porque as mulheres que têm mais complicações são aquelas que já tinham alguma doença prévia”, destaca.

Crescimento da reprodução assistida

As tecnologias de reprodução assistida existem há mais de 30 anos e surgiram para atender uma crescente demanda de casais com infertilidade; mulheres com histórico de câncer e para os novos formatos de famílias, como os casais homoafetivos, caso queiram ser pais de um filho biológico.

Segundo Motta, doenças relacionadas às dificuldades prévias de gravidez estão com melhores opções de tratamento – entre elas situações reumatológicas, algumas doenças autoimunes, câncer e cardiovasculares. Assim, quem teria, no passado, dificuldade para engravidar por falta de controle de uma doença, hoje têm mais oportunidades.

“Melhores abordagens para promoção de saúde e controle de doenças permitem que mais mulheres e casais busquem a gravidez. O que os médicos antes entendiam como uma contraindicação à gravidez deixa de existir”, afirma o especialista.

(Fonte: Agência Einstein)

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